A mesa foi presidida pelo Senhor Presidente da Câmara de Águeda, Dr. Gil Nadais., sendo os outros elementos o Dr. João Manuel Ribeiro, na qualidade de editor da Trinta Por Uma Linha, e o Dr. Paulo Sucena, que teve a seu cargo a apresentação.
A sala encheu, tendo estado presentes muitos amigos e colegas. A todos agradeço a amizade, o carinho e o incentivo.
O Dr. Paulo Sucena fez uma análise exaustiva, centrada essencialmente no discurso narrativo e nos processos diegéticos de cada uma das histórias. As suas palavras foram por demais elogiosas, o que me deu um grande incentivo para continuar.
Dois dos meus ex-alunos, leitores que ajudei a construir, leram um dos contos, no final das várias intervenções.
Deixo-vos uma pequena amostra fotográfica.
As minhas considerações sobre a génese destes contos:
Se Manuel Alegre o não tivesse dito, gostaria eu de o poder dizer agora. Aquando da apresentação do seu último romance, em resposta à clássica pergunta acerca dos motivos que levam à escrita de um determinado livro, Manuel Alegre respondeu que lhe apetecia dizer: “Escrevi este livro porque sim.” Frase genial, extremamente complexa na sua aparente simplicidade. Não posso avaliar o peso semântico e emocional que esta frase tem para quem a disse. Posso, no entanto, dar conta da minha leitura. Leio nesta frase a síntese de toda a problemática da individualidade e da intimidade da escrita, que leva o autor à plenitude da satisfação de mostrar-se, não se mostrando; de estar no texto, não estando. Se ler é um acto solitário – partilhamos leituras, mas nunca a nossa fruição do texto –, escrever é-o ainda mais. E querer dizer por que se escreve é pretender explicar o inexplicável.
É claro que ninguém escreve do nada. Há sempre um estímulo que desencadeia a génese da história. Ela nasce não se sabe bem onde: às vezes no pensamento; às vezes no coração – pode dar apertos na garganta, embrulhos no estômago, ou até subir aos olhos para se despenhar em chuva de lágrimas. Começa, então, a crescer. Pode ser uma visão feminina da escrita, mas sinto que há um período de gestação da história, em que ela cresce, cresce, cresce até não caber mais em nós e se projectar abruptamente no papel. Nasce, contudo, ainda tosca e imperfeita, à espera que o autor assuma um novo papel: o de artífice da Língua, para lhe dar voltas e mais voltas, até à versão definitiva que, no entanto, nunca é a forma perfeita. É com este corpo, de que se desliga, que a oferece ao leitor, o outro pólo da comunicação narrativa, a quem cabe a construção de novos sentidos. Mas se é possível restabelecer o processo, já não será assim para explicar o estímulo. Porquê um e não outro. Essa parece-me ser a questão do porque sim da frase de Manuel Alegre.
E quais foram, afinal, os meus estímulos? Que casamento fiz entre estímulos e motivos?
Já que não posso, não devo, nem quero plagiar, não direi que escrevi este livro porque sim. Direi, então, que escrevi este livro porque não.
Porque, de facto, não quero perder certas memórias e observações que, se resistiram à selecção da memória, é porque foram marcantes e vale a pena partilhar.
Não quero, também, abdicar da responsabilidade de não mostrar aos mais jovens que as gerações anteriores, embora de maneira diferente, também foram felizes e se divertiram muito. Espero consegui-lo com alguns dos contos incluídos neste livro. Sendo um pouco mais pretensiosa, espero com isso ajudar a despertar o diálogo entre gerações, cada vez mais atacado por surdez galopante, sem reversão à vista. Daí, a escolha das idades para o público preferencial deste livro.
Teremos, então, Histórias a Sério.
Mas, por se tratar de histórias a sério, não quero revelá-las, revelando-me. E a ficção narrativa é o melhor esconderijo para os tímidos e o melhor processo de comunicação para os introvertidos. A transfiguração da realidade possibilita um jogo de escondidas com o leitor que, embora possa estar convencido do contrário, nunca será capaz de encontrar no texto o autor por inteiro. É no fundo desafiar o leitor para desvelar o texto, ou seja, etimologicamente falando, retirar o tal "véu diáfano da fantasia" (e perdoem-me a pretensão da citação queirosiana). Só que, desta vez não é para encontrar "a nudez crua da verdade", mas a verdade, às vezes tão terna e simples, do autor, visto que de memórias se trata. Desafio-vos a procurá-la nas minhas Histórias Assim.
Sintetizando, foi por este processo que umas quantas Histórias a Sério desabrocharam em outras tantas Histórias Assim… corporizadas pela ficção. Advirto-vos, porém, para o seguinte: nem só o poeta… mas quem quer que tenha experimentado o prazer da escrita, quando apanha à mão uma folha de papel e uma caneta, “finge tão completamente…” Se calhar, estas histórias a sério mais não serão do que histórias assim-assim. Mas isso só eu sei e vou guardar para mim.
Espero que a leitura deste livro proporcione aos mais e aos menos jovens momentos de agradável lazer, numa equilibrada mistura de emoção, prazer e reflexão. Daqueles que, em questões de bilhete de identidade – e apenas nestas –, se encontraram já nas prateleiras da metade superior do armário, espero mais: sentir-me-ei muito feliz se conseguirem reencontrar-se, revendo espaços, costumes ou vivências que terão, por certo, carinhosamente arrumadas na gaveta das gratas recordações.
Só assim as Histórias Assim e a Sério se cumprirão como literatura.
Sem comentários:
Enviar um comentário